Burnout: os sinais da
síndrome que é causada pelo esgotamento no trabalho
Acúmulo de tarefas, cobranças excessivas, perfeccionismo e foco no
trabalho como fonte exclusiva de prazer levam ao esgotamento físico e mental.
Reconheça os sinais da síndrome de burnout e aja antes de acabar exaurida.
Por Cristina Nabuco (colaboradora)
Getty Images (/)
É como se o corpo e a mente
colocassem um ponto final: “Agora chega!” Um cansaço devastador revela falta
absoluta de energia. Todas as reservas estão esgotadas. No trabalho, a pessoa,
antes competente e atenciosa, liga o “piloto automático”. No lugar da
motivação, surgem irritação, falta de concentração, desânimo, sensação de
fracasso. Esses são indícios de uma doença cruel e de difícil diagnóstico que
avança nos hospitais, nas empresas, escolas… A síndrome de burnout, ou
esgotamento profissional, decorre de stress prolongado no trabalho. O termo em
inglês significa estar chamuscado, queimado, calcinado por um fogo que se
alastra como numa floresta. “É quando a casa cai”, resume o psiquiatra e
clínico-geral Cyro Masci, autor do livro digital Bioestresse: Novos Caminhos
para o Equilíbrio e a Saúde (Amazon). No Brasil, 30% dos profissionais
apresentam esse grau máximo de pane no sistema, conforme pesquisa da filial
nacional da International Stress Management Association (Isma), que avaliou mil
pessoas de 20 a 60 anos entre 2013 e 2014. Segundo a psicóloga Ana Maria Rossi,
presidente da organização no país, 96% dos atingidos sentem-se incapacitados, o
que provoca absenteísmo – para realizar exames e licenças médicas – e
presenteísmo, quando se está fisicamente no posto, mas com a mente distante.
O rendimento, claro, cai. “Quem
tem burnout trabalha cinco horas a menos por semana”, calcula a psicóloga. E
enfrenta maior risco de erros e acidentes de carro, por exemplo, diante da
desatenção e da imprudência. Como se não bastasse, há perdas sociais,
especialmente na relação com os colegas. “O grupo demonstra solidariedade e até
oferece auxílio nas tarefas. Mas, sobrecarregado pelos afazeres do outro, passa
a questionar: ‘Como alguém pode ficar doente o tempo todo?’ E o apoio cede
espaço à hostilidade”, explica ela. Familiares e amigos também questionam como
alguém de aparência normal pode estar tão debilitado. “A tendência é darem conselhos
para reagir, o que só piora o quadro”, revela Masci. “Muito exigente consigo, o
profissional vai tentar produzir mais, o que intensifica o cansaço e diminui a
eficiência. É um ciclo vicioso.”
O termo burnout, que só se aplica
no ambiente laboral, foi criado pelo psicanalista americano Herbert
Freudenberger em 1974 para descrever o adoecimento que observou em si mesmo e
em colegas. Um relatório feito com base em 20 mil entrevistas, o Medscape
Physician Lifestyle Report 2015, divulgado em janeiro passado, concluiu que 46%
dos médicos dos Estados Unidos têm burnout. Em 2013, a taxa era de 40%. As
categorias mais atingidas são as que lidam com pessoas e se expõem ao
sofrimento humano, conforme nota Masci. A síndrome acomete muitos enfermeiros,
psicólogos, professores, policiais, bombeiros, carcereiros, oficiais de
Justiça, assistentes sociais, atendentes de telemarketing, bancários,
advogados, executivos, arquitetos e jornalistas. Com a ala feminina no alvo
principal. “Num grupo de mil profissionais, há 540 mulheres para 460 homens com
burnout. Elas são mais afetadas porque não se lembram de seguir a orientação
das aeromoças: colocar em si mesmas a máscara de oxigênio antes de ajudar os
outros. Foi isso que escreveram Sheryl Sandberg, diretora do Facebook, e Adam
Grant, professor de administração da Universidade da Pensilvânia, nos Estados
Unidos, em artigo sobre mulher e trabalho, publicado no jornal The New York
Times em fevereiro deste ano. O dado foi obtido em uma análise de 183 estudos
sobre diferenças de gênero e burnout em 15 países. Segundo Sandberg e Grant,
uma das razões é a expectativa de que as mulheres realizem, além das suas
funções, também o serviço “doméstico” do escritório, como atender telefone,
tomar notas, servir café e organizar festas, sem serem recompensadas por isso.
Quando negam, são malvistas, o que pode prejudicar a carreira. “Se o homem não
ajuda, é porque está ocupado. A mulher é egoísta”, mostram. Incapaz de dizer
não, ela abraça mais obrigações, até chegar ao ponto crítico da síndrome do
burnout.
A
escalada ao caos
Três características marcam a
doença. A primeira é a exaustão, citada por 97% das brasileiras na pesquisa do
Isma. “A sensação é de estar no vermelho, sem recursos físicos e emocionais”,
diz Ana Maria. Há fraqueza, dores musculares e de cabeça, náuseas, alergias,
queda de cabelo, distúrbios do sono, maior suscetibilidade a gripes e
diminuição do desejo sexual; 91% relataram desesperança, solidão, raiva,
impaciência e depressão; 85% citaram raciocínio lento, memória alterada e baixa
autoestima. A segunda característica, com traços emocionais, liga-se à
despersonalização ou ceticismo e distanciamento afetivo. O profissional passa a
ter contato frio e irônico com os receptores do seu trabalho e, não raro,
torna-se uma presença ranzinza e negativista. A terceira refere-se mais à
produtividade, com baixo grau de satisfação pessoal. A pessoa produz pouco e
acha que isso não tem valor. A escalada até o caos é progressiva. “Se colocar
um sapo na água quente, ele foge. Mas, se aumentar a temperatura aos poucos,
ele não percebe e vai se adaptando até que um dia explode”, compara Ana Maria.
As mudanças também são graduais e em fases. O sono já não consegue reparar o
organismo. “Períodos de excitação se intercalam com horas em que se sentem
mortos-vivos”, diz Masci. Na etapa seguinte, a queda no rendimento levanta
dúvidas quanto à própria capacidade. Depois, predomina a agressividade. Os
hormônios liberados nos ataques de ira (como o cortisol, produzido na
suprarrenal) ampliam o risco de diabetes, cardiopatias, doenças autoimunes,
crises de pânico e depressão. Por último, instala-se o esgotamento total.
Perfeição,
o veneno
O burnout é produto de um mix de
fatores pessoais, profissionais e sociais. Entre as causas individuais
destacam-se o perfeccionismo, que leva à busca de uma excelência às vezes
impossível, e o idealismo em relação à profissão, cobrando um engajamento
pessoal para além dos limites. Uma revisão de estudos feita pela equipe da
psiquiatra Telma Trigo, no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, em 2007, apontou ainda competitividade, impaciência,
necessidade exagerada de controlar as situações e dificuldade para tolerar
frustração, delegar tarefas e trabalhar em grupo. Os fatores laborais que
servem de gatilho são: demandas excessivas que ultrapassam a capacidade de
realização, baixo nível de autonomia e de participação nas decisões, falta de
apoio das chefias, sentimento de injustiça, impossibilidade de promoção,
conflitos com colegas e isolamento. “A pessoa nunca é convidada para happy
hours e só fica sabendo dos churrascos depois”, exemplifica Ana Maria. Outro
fator comum é a sensação de que é preciso contrariar os próprios valores para
se dar bem na carreira.
Tratamento
Esse mal é reconhecido pela
Organização Mundial da Saúde e pelas leis brasileiras como doença ocupacional.
Por isso, admite-se o afastamento para debelar a síndrome. O problema está na
dificuldade de diagnosticar – muitas vezes ela é confundida com depressão. Em geral,
antidepressivos fornecem certo alívio. Mas o tratamento compreende mais coisas.
“Não dá para tomar um remedinho e seguir num ritmo alucinante”, alerta Cyro
Masci. É preciso desacelerar. A mudança pode vir por meio de psicoterapia.
Meditação e técnicas de relaxamento associadas ao tratamento combatem esse tipo
de stress, como demonstrou uma revisão de 58 estudos com 7 188 participantes
feita pela Cochrane Library e divulgada em dezembro. Ana Maria adverte que a
volta ao trabalho nem sempre é fácil. “O ideal é um retorno gradual, em que as
demandas crescem aos poucos”, orienta. O mais importante, porém, se alinha à
alteração da postura. Sheryl Sandberg e Adam Grant enfatizam que as mulheres (e
os homens) alcançam a melhor performance e experimentam menos burnout quando
respeitam as próprias necessidades e limites.
Para
fugir da síndrome de burnout
·
Abandone
o lema “Meu nome é trabalho”. Não coloque todos os ovos numa cesta só.
Diversifique as fontes de gratificação e descubra seus hábitos de prazer. Leia
mais, vá ao cinema, curta os amigos e os pets.
·
Faça uma
avaliação sobre custo e benefício: o que a atraiu nesse emprego e a
mantém aí? A possibilidade de ajudar as pessoas?
·
O
salário? Seja qual for a motivação, focalize no que é positivo em vez de
olhar os aspectos negativos que, em geral, são muitos.
·
Restabeleça
contatos profissionais. Faça networking, procure novas chances no mercado ou em
outro setor da empresa se o que você faz, no momento, significa exaustão.
·
Atenção
aos sinais emitidos por seu corpo. A exaustão pode ser sintoma de várias
doenças, de anemia a distúrbios da tireoide. Na dúvida, consulte um médico. Se
for stress, procure desacelerar o ritmo e faça uma coisa de cada vez.
·
Cuide de
seu estilo de vida. Alimente- -se bem, em horários regulares, sem exagerar no
álcool e na cafeína. Durma o necessário para acordar reanimada.
·
Inclua
exercícios físicos na rotina. Eles ativam a circulação, estimulam o
metabolismo, energizam e ajudam a administrar o stress.
·
Conte com
o apoio da família, dos amigos ou de uma prática espiritual.
Como é importante ter um tempo para si, se não de fato viveremos estressados e sob pressão, até adquirir a Síndrome de Burnout.
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